A falácia da falsa dicotomia, também conhecida como falso dilema, ocorre quando um argumento reduz uma questão complexa a apenas duas opções opostas, ignorando outras possibilidades viáveis. Essa simplificação leva a conclusões equivocadas, em geral à conclusão que o emissor que que se tenha para usar de forma a manipular discursos políticos, debates e estratégias de persuasão, geralmente por formadores de opinião e “influencer”.
Vejamos a estrutura básica desta falácia. Ela seguirá o seguinte padrão:
Premissa 1: Ou A é verdadeiro, ou B é verdadeiro.
Premissa 2: B é falso.
Conclusão: Portanto, A deve ser verdadeiro.
O problema é que essa estrutura ignora a possibilidade de C, D ou outras opções intermediárias.
(Parece até com o silogismo disjuntivo! Veja explicação aqui)
Política: “Ou você apoia o governo, ou você quer a destruição do país.”
Cotidiano: “Ou você come apenas alimentos saudáveis, ou você nunca será saudável.”
Polarizadoção: Durante os efeitos da polarização política: “Ou você apoia o liberalismo, ou é comunista.”
Vieses cognitivos são uma espécie de atalhos do pensamento, geralmente para encurtar procesos do pensamento para soluções rápidas do dia a dia. Porém, nem sempre estes atalhos levam a melhores conclusões, embora as mais rápidas. A complexidade da vida exige caminhos tortuosos do pensar.
Aqui citarei dois vieses cognitivos que influenciam diretamente a aceitação da falsa dicotomia:
Nosso cérebro prefere explicações simples e diretas, pois processar informações complexas exige mais esforço.
Geralmente, quem utiliza o falso dilema se aproveita desse viés ao apresentar apenas duas opções, tornando a escolha mais acessível e intuitiva.
Pessoas tendem a evitar cenários com múltiplas variáveis e incertezas, preferindo decisões binárias, mesmo que distorçam a realidade.
Pessoas tendem a alinhar suas opiniões com as do grupo ao qual pertencem para evitar conflitos e reforçar sua identidade social.
Quem propaga uma falsa dicotomia pode explorar esse viés ao criar um cenário onde “nós” estamos certos e “eles” estão errados.
Isso leva os indivíduos a ignorar outras alternativas para não parecerem incoerentes ou desleais ao grupo.
Manipuladores que usam a falsa dicotomia compreendem esses vieses e os exploram para tornar a ilusão de apenas duas opções ainda mais convincente.
A falsa dicotomia tem impacto negativo o pensamento crítico e a argumentação lógica, pois exclui muitas possibilidades plausíveis, melhores, ou alternativas, importantes para o desenvolvimento humano. Suas principais consequências incluem:
Polarização: Leva a debates extremos, onde não há espaço para posições intermediárias.
Manipulação de opiniões: Pode ser usada para forçar a adesão a uma ideia sem considerar alternativas.
Supressão de alternativas: Elimina soluções equilibradas, dificultando o diálogo construtivo.
Para detectar essa falácia, faça as seguintes perguntas:
Existem outras opções além das apresentadas?
O argumento apresenta uma visão excessivamente binária onde caberiam alternativas?
Há um meio-termo que está sendo ignorado?
Se a resposta for “sim” para qualquer uma dessas perguntas, há uma grande chance de ser uma falsa dicotomia.
Apontar alternativas ignoradas: Este passo é bem óbvio e certamente é aplicável não apenas nesta valácia, mas em muitas outras. Para este caso, basta afirmar: “Na verdade, existem outras possibilidades além dessas duas.”
Questionar a premissa binária: “Por que só essas duas opções foram consideradas?” Embora possa parecer que sempre há mais de duas possibilidades, é possível, mesmo que raramente, ter questões de apenas duas alternativas, como ligado/desligado, vico/morto (a menos que esteja em um episódio de The Walking Dead), aprovado/resprovado (dependendo do sistema). Veja que neste quesito é possível que dependendo do contexto as alternativas sejam alargadas, por exemplo, atualmente alguém posse ser “aprovado” com pendências, ou diminuídos, por exemplo, em um modelo de descrição do mundo, pode-se excluir deliberadamente as alternativas criando apenas duas possíveis,
Sugerir um meio-termo: “E se encontrarmos um equilíbrio entre essas posições?” É possível criar este meio termo em situações específicas, sem cair no erro de este meio termo favorecer uma das duas alternativas, ou seja, algumas vezes o meio termo é apenas uma forma de manter duas alternativas, onde o meio termo favorece a uma.
Explore diferentes perspectivas antes de formular um argumento. Lembre-se que na maioria das vezes há alternativas.
Evite declarações absolutistas como “ou isso, ou aquilo”. Opte por “tanto quanto possível”, “atá onde pude observar”, “dentro de certas limitações”, “olhando por este modelo”…
Incentive o pensamento crítico ao apresentar múltiplas soluções para um problema. Neste ponto é importante que muitas alternativas, embora deixem as soluções mais complexas, estimulam o pensamento por novos caminho.
Nem todo argumento que visa criar dualidade é falacioso, alguns exercícios mentais e algumas estruturas de pensamento permitem que a visão dualista da vida gerem reflexões profundas sobre a vida e a sociedade. É o caso do raciocínio por contrários.
O raciocínio por contrários é uma estratégia argumentativa clássica identificada por Aristóteles, onde a compreensão de um conceito se dá pela análise de seu oposto.
Se algo é verdadeiro, podemos investigar sua negação para avaliar a validade do argumento.
Esse método não apenas amplia nossa visão sobre um tema, mas também nos ajuda a evitar armadilhas cognitivas, como a falácia da falsa dicotomia, que reduz uma questão a apenas duas opções excludentes.
Se você deseja aprimorar sua argumentação e evitar falácias lógicas, continue acompanhando meu conteúdo!
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